Responsabilidades do Administrador e do Gestor de Fundos Segundo a CVM 175

Bruno Haas

A Resolução CVM 175 trouxe importantes mudanças na definição de responsabilidades entre administradores e gestores de fundos de investimento, refletindo a necessidade de maior clareza e eficiência na governança desses veículos financeiros. Essa atualização na regulamentação tem implicações significativas, especialmente no que diz respeito à autonomia e aos deveres de cada parte envolvida, visando a uma maior proteção dos investidores e à integridade dos mercados.

1. Divisão de Responsabilidades: Um Esforço de Clarificação

Tradicionalmente, as responsabilidades do administrador e do gestor eram frequentemente vistas como sobrepostas ou mal definidas, o que poderia levar a ambiguidades na administração dos fundos. A CVM 175 visa a corrigir essas questões, delineando claramente o que é esperado de cada parte. O administrador continua responsável pela supervisão geral do fundo, incluindo a verificação da conformidade das operações com os regulamentos vigentes, enquanto o gestor assume uma posição mais ativa na administração das atividades diárias do fundo.

2. Autonomia do Gestor e Suas Novas Responsabilidades

Um dos pontos centrais da CVM 175 é a ampliação das responsabilidades do gestor, que agora possui maior autonomia na contratação de prestadores de serviços, como distribuidores e consultores. Essa mudança permite ao gestor tomar decisões mais ágeis e adaptadas às necessidades específicas do fundo, ao mesmo tempo em que o responsabiliza diretamente pela escolha e monitoramento desses serviços.

3. Controle de Enquadramento da Carteira: Um Papel Central para o Gestor

Outra mudança significativa introduzida pela CVM 175 é o papel central do gestor no controle de enquadramento da carteira. Isso significa que o gestor é agora o principal responsável por garantir que os ativos do fundo estejam sempre dentro dos limites de exposição e concentração definidos pelo regulamento do fundo e pela própria CVM. Esse controle é crucial para proteger os investidores contra riscos excessivos e assegurar que o fundo opere dentro de parâmetros aceitáveis de risco.

4. Supervisão do Administrador: Garantia de Conformidade

Embora o gestor tenha assumido novas responsabilidades, o administrador não foi removido do processo. A CVM 175 reforça o papel do administrador na supervisão das atividades do gestor, especialmente no que diz respeito ao enquadramento da carteira. O administrador deve garantir que o gestor esteja cumprindo suas responsabilidades de forma adequada e que as operações do fundo estejam em conformidade com todas as regulamentações aplicáveis.

5. Gestão de Liquidez: Uma Responsabilidade Compartilhada

Uma das áreas em que a CVM 175 estabeleceu responsabilidades compartilhadas entre o gestor e o administrador é a gestão de liquidez. Ambos devem trabalhar em conjunto para assegurar que o fundo mantenha níveis adequados de liquidez para atender a resgates e outras obrigações financeiras. Isso requer uma coordenação estreita e um entendimento claro das necessidades de caixa do fundo, bem como dos riscos associados à liquidez dos ativos.

6. Impacto na Governança e no Custo Operacional

A ampliação das responsabilidades do gestor e a exigência de uma maior supervisão pelo administrador têm implicações diretas na governança dos fundos. Gestores agora precisam implementar processos mais rigorosos e contratar profissionais qualificados para garantir que todas as novas responsabilidades sejam cumpridas de forma eficaz. Isso pode aumentar os custos operacionais, especialmente para gestoras menores que ainda não têm uma estrutura robusta para suportar essas novas exigências.

7. Desafios para Novas Gestoras

Para novas gestoras, a CVM 175 pode representar uma barreira significativa de entrada no mercado. A necessidade de conformidade com as novas exigências pode exigir investimentos substanciais em infraestrutura e recursos humanos, o que pode ser desafiador para empresas em estágio inicial. No entanto, para gestoras bem estabelecidas, essas mudanças podem ser uma oportunidade para reforçar a confiança dos investidores e diferenciar-se pela robustez de suas práticas de gestão e compliance.

8. Benefícios a Longo Prazo para o Mercado

Embora as novas responsabilidades possam inicialmente parecer um fardo, especialmente em termos de custos e complexidade operacional, elas também trazem benefícios substanciais para o mercado de fundos de investimento. Ao clarificar as responsabilidades e exigir um nível mais alto de controle e supervisão, a CVM 175 contribui para um ambiente mais seguro e confiável para os investidores, o que pode resultar em maior confiança no mercado e atração de capital.

9. O Papel do Administrador como Guardião do Fundo

Apesar do aumento de responsabilidades para os gestores, o papel do administrador continua sendo vital. Como guardião do fundo, o administrador deve garantir que todas as atividades, desde a contratação de serviços até o monitoramento da liquidez, estejam em conformidade com as normas regulatórias. Esse papel de supervisão é essencial para manter a integridade do fundo e proteger os interesses dos cotistas.

10. Conclusão: Um Novo Paradigma na Gestão de Fundos

A CVM 175 marca um novo paradigma na gestão de fundos de investimento no Brasil. Ao redistribuir responsabilidades e aumentar a autonomia dos gestores, a regulamentação busca um equilíbrio entre eficiência operacional e segurança regulatória. Para gestores e administradores, isso significa um compromisso renovado com a excelência na administração de fundos, com o objetivo de criar um ambiente de investimento mais seguro, transparente e eficiente.

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